A ausência de sistemas de esgoto e drenagem e a existência de algumas moradias de taipa, com construção precária, estão entre os desafios estruturais de Colônia, comunidade no município de Bonito, no agreste de Pernambuco. A situação das 150 famílias que moram no local motivou a atuação do Instituto Terra Viva do Brasil, a convite da prefeitura, para contribuir com a implementação de mudanças que melhorem a qualidade de vida da população.
Em parceria com o Espaço Feminista, organização que atua na promoção dos direitos das mulheres à terra, o Instituto Terra Viva está colaborando com um projeto da prefeitura de Bonito com foco em saneamento e melhorias habitacionais.
A ação, que começou a ser desenvolvida este ano, teve uma etapa importante nos dias 4 e 5 de novembro, quando representantes do Instituto e do Espaço Feminista visitaram Colônia e Alto Alegre, outra comunidade localizada no mesmo município. Representando o Instituto Terra Viva do Brasil, estiveram presentes as diretoras Anna Paula da Silva e Patrícia Chaves e o conselheiro consultivo Antônio Jucá Filho.
“Vamos colaborar com o importante trabalho que o Espaço Feminista desenvolve desde 2019 em Bonito através do programa da prefeitura ‘Minha casa é legal’, garantindo a regularização fundiária com recorte de gênero, com apoio da Cadasta Foundation”, explica Anna Paula Silva.
O programa já garantiu a regularização fundiária em cinco comunidades de Bonito: Mutirão, Frei Damião, Alto Alegre, Bentivi e Novo Mundo. “Em Colônia, não foi possível efetuar o processo de regularização devido aos problemas de infraestrutura”, explica Patrícia Chaves, que também é diretora do Espaço Feminista.
A visita teve como objetivo compreender melhor os desafios enfrentados pela população, além de discutir iniciativas voltadas ao desenvolvimento social e à equidade de gênero. Em seguida, será conduzida uma pesquisa de campo mais aprofundada, com levantamento quantitativo, para dimensionar com precisão as demandas e orientar as próximas etapas do projeto.
As equipes das duas organizações se encontraram com o secretário de saúde do município, José Pinheiro, e o vereador e ex-secretário de agricultura Eiji Marimura, descendente de japoneses. Curiosamente, foi um grupo de imigrantes vindos do Japão que fundou Colônia, na década de 1950. Desde então, o perfil da população mudou, e hoje a maioria não tem ascendência nipônica.
Junto com Marimura, Gigliola Silva e Sergiana Maria, integrantes da equipe do Espaço Feminista em Bonito que atuam há anos junto à comunidade, fizeram a ponte entre o Terra Viva e os moradores, que abriram suas casas e compartilharam dificuldades.
“Constatamos a necessidade de melhoria das condições habitacionais e a falta de saneamento adequado. Também fomos informados de problemas como a alta presença do besouro transmissor da Doença de Chagas. Fiquei comovido com o estado do local. O problema é maior do que eu imaginava, mas a perspectiva é boa”, comenta Antônio Jucá Filho, consultor do Instituto e arquiteto com mais de trinta anos de experiência em habitação e saneamento.
Em apoio ao município, o Instituto Terra Viva do Brasil será responsável por coordenar a elaboração do projeto de saneamento no local, buscando soluções sustentáveis e que atendam às necessidades reais das famílias. “O saneamento básico envolve quatro áreas: esgotamento sanitário, coleta e tratamento de lixo, drenagem urbana e abastecimento de água. O foco inicial em Colônia será a coleta e tratamento de esgoto. Como é uma comunidade pequena, tudo indica que o tratamento será feito por fossas sépticas”, detalha Antônio.
O projeto vai ser elaborado por um técnico especializado, em diálogo com uma equipe técnica do município. Em seguida, a administração municipal ficará responsável pela implementação, com acompanhamento do Instituto.
Além de Colônia, as equipes visitaram também a comunidade de Alto Alegre, onde o Espaço Feminista já atua. “A regularização fundiária realizada lá é importantíssima, mas tem uma perspectiva individual. Hoje nosso objetivo é pensar aquele espaço com foco em questões coletivas, como áreas verdes, coleta de lixo, esgoto, saúde e transporte. Esse conjunto de ações será pensado tanto a partir de reivindicações junto ao poder público quanto pela mobilização das mulheres da comunidade”, aponta Patrícia Chaves.
Na visita foram realizados encontros com representantes de seis áreas que passaram ou estão passando pela regularização fundiária. Houve momentos de escuta da população local, que expressou suas necessidades, e foram propostas soluções de urbanização para os territórios com respeito ao meio ambiente.
“Estamos animadas para manter a colaboração com o município e seguir trabalhando por melhorias tão importantes para a qualidade de vida da população, que participa ativamente do processo”, conclui Patrícia.
Crédito das fotos: Evelyn Soares (Espaço Feminista), Patrícia Chaves e Antônio Jucá Filho (Instituto Terra Viva do Brasil)